Na maior rede social profissional do mundo, o empresário Haran Santhiago Girão Sampaio, de pouco mais de 40 anos, se apresenta como um gênio dos negócios. No LinkedIn, ele detalha com orgulho sua trajetória, que começou em uma rede de farmácias e, em pouco mais de duas décadas, se transformou em dono de um império com 32 postos de combustível, uma transportadora, uma construtora e fazendas. O que seu perfil não menciona, no entanto, é que essa ascensão "relâmpago" é agora o centro de uma das maiores operações contra lavagem de dinheiro do Primeiro Comando da Capital (PCC) no Nordeste.
A ostentação digital de Haran, detalhando a criação de múltiplas empresas em curtos espaços de tempo, foi um dos elementos que despertou a atenção das autoridades policiais. Suas próprias confissões públicas sobre a rápida expansão de seus negócios serviram como um contraponto à realidade investigada pela Polícia Civil do Piauí, que na Operação Carbono Oculto 86 identificou um sofisticado esquema para lavar recursos da facção criminosa, conforme diz o delegado Anchieta Nery, chefe da Inteligência da Polícia Civil do Piauí.
A ascensão "relâmpago" narrada por Haran
Em seu perfil no LinkedIn, Haran Santhiago Girão Sampaio traça sua própria biografia empresarial e o sucesso dos negócios iniciados quando tinha 20 anos:
· 2004: Início na rede de Farmácias Lusitana, fundada por seu pai.
· 2007: Fundação da HS Construtora Ltda.
· 2012: Entrada no setor imobiliário.
· 2014: O "grande salto" para o ramo de combustíveis, fundando o Grupo HD, que rapidamente expandiu para 32 unidades no Piauí, Maranhão e Tocantins, além da HD Transportes.
· 2022: Ingresso na agropecuária com a compra de duas fazendas no Maranhão.
Foi justamente o setor de combustíveis, onde ele afirma ter feito "mais sucesso", que se tornou o epicentro das investigações. A polícia suspeita que os postos eram usados como fachada principal para lavagem de dinheiro, venda de combustível adulterado e fraude fiscal em larga escala.
A Operação Carbono Oculto 86
Na quarta-feira (5), uma força-tarefa da Polícia Civil do Piauí desencadeou a operação, que investiga um esquema que movimentou cerca de R$ 5 bilhões. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública (SSP-PI), o grupo criminoso utilizava uma complexa rede composta por postos de combustíveis, empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs para lavar dinheiro, ocultar patrimônio e cometer fraudes fiscais para o PCC.
Apreensões recelam a ostentação
A operação resultou na apreensão de bens de alto valor que ilustram o poderio financeiro do esquema e corroboram o perfil ostentador do principal investigado, Haran Sampaio. Foram apreendidos:
· Quatro aeronaves: um Raytheon Aircraft 400A, um Aircraft Astra SPX, um Aircraft C90A e um Cessna Aircraft 210M.
· Um Porsche avaliado em R$ 550 mil.
As aeronaves, que pertencem a Haran, serão encaminhadas à Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) para a inserção de gravame, uma restrição legal. Além das apreensões, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 348 milhões em bens vinculados a 10 pessoas e 60 empresas investigadas.
Medidas cautelares e interdições
A Justiça impôs medidas cautelares a seis empresários, incluindo Haran. Eles têm a obrigação de comparecer ao tribunal quando intimados, estão proibidos de sair de Teresina e de se comunicar com os demais investigados.
A operação interditou 49 postos de combustível em várias cidades:
· Piauí: Teresina, Lagoa do Piauí, Demerval Lobão, Miguel Leão, Altos, Picos, Canto do Buriti, Dom Inocêncio, Uruçuí, Parnaíba e São João da Fronteira.
· Maranhão: Caxias, Alto Alegre e São Raimundo das Mangabeiras.
· Tocantins: São Miguel do Tocantins.
Como funcionava o esquema
As investigações revelaram que o grupo se valia de "laranjas", constituía fundos de investimento e utilizava fintechs para realizar movimentações financeiras atípicas, dificultando o rastreamento do dinheiro de origem ilícita.
A investigação ganhou forma após a venda da rede HD de postos para a empresa Pima Energia e Participações, criada poucos dias antes da negociação, em dezembro de 2023. A operação é considerada um golpe em um dos braços financeiros do PCC na região Nordeste, expondo a sofisticação dos métodos usados pelo crime organizado para infiltrar seu capital na economia formal.

Fonte: Linkedin
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