A Secretaria de Estado da Saúde do Piauí (Sesapi) oficializou, em março de 2025, a contratação da Beneficência Hospitalar de Cesário Lange (BHCL) para assumir a gestão do Hospital Regional Manoel de Sousa Santos e da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Bom Jesus. A instituição paulista venceu o processo licitatório iniciado em setembro de 2024 e será responsável pela administração das duas unidades pelos próximos cinco anos.
Segundo o contrato, a BHCL receberá anualmente R$ 12.216.202,56 pela gestão da UPA de Bom Jesus e R$ 53.268.000,00 pela administração do Hospital Regional, totalizando um repasse superior a R$ 65 milhões por ano. A atuação da organização começou de forma imediata após a assinatura do contrato.
A medida reacende o debate sobre a terceirização da saúde pública no estado. Desde 2023, quando o governo do Piauí iniciou o repasse da gestão hospitalar para organizações sociais, o Conselho Estadual de Saúde tem se posicionado contra a iniciativa. O conselho argumenta que experiências semelhantes em outros estados demonstraram falhas significativas na qualidade e na continuidade dos atendimentos.

Entidades representativas de trabalhadores também expressaram preocupação. A presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Saúde do Piauí (Sindespi), Geane Sousa, alertou para o enfraquecimento dos direitos trabalhistas e o impacto direto na qualidade do serviço prestado à população. “Essa terceirização enfraquece direitos históricos dos trabalhadores e traz impactos na qualidade do serviço. Servidores em final de carreira ficam sem garantias e enfrentam dificuldades para se aposentar”, afirmou.
O núcleo do Piauí do Centro Brasileiro de Estudos de Saúde (Cebes) também divulgou uma nota de repúdio, na qual critica a decisão e denuncia o que considera o início de um processo de privatização do Sistema Único de Saúde (SUS) no estado.
A presidente do Sindicato dos Médicos do Piauí, Lúcia Santos, reforçou as críticas e destacou os riscos da entrega da gestão à iniciativa privada. “Essas empresas passam a controlar recursos públicos, economizam em materiais, deixam de pagar adequadamente médicos e demais profissionais e, em muitos casos, abandonam a gestão deixando dívidas. É um caminho perigoso que pode comprometer a qualidade e a universalidade do SUS”, alertou.
A discussão sobre o modelo de gestão da saúde pública segue em pauta no estado, especialmente diante das consequências sociais e estruturais que a mudança pode representar para o atendimento da população, sobretudo a mais vulnerável.
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No dia 7 de abril, diretores da Beneficência Hospitalar de Cesário Lange (BHCL) estiveram em Bom Jesus para uma reunião que foi realizada na Câmara de Vereadores, com os profissionais do Hospital Regional Manoel de Sousa Santos e da UPA do município. O encontro teve como objetivo apresentar os planos de funcionamento da nova gestão e alinhar as diretrizes de trabalho que serão adotadas pela organização nos próximos cinco anos.
Durante a reunião, a equipe da BHCL detalhou mudanças nos fluxos internos, metas de atendimento, padrões de qualidade e expectativas em relação à atuação dos profissionais. A presença dos diretores também serviu para estabelecer um canal direto de diálogo com os servidores, muitos dos quais manifestam incertezas diante do processo de terceirização.

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