Pesquisadores da UFPI identificam cultivar de soja resistente à mosca branca no Sul do Piauí

Pesquisadores da Universidade Federal do Piauí (UFPI) identificaram uma cultivar de soja com resistência natural à mosca-branca (Bemisia tabaci), uma das principais pragas da agricultura tropical. Outra descoberta importante foi a identificação de um novo parasitoide, um pequeno inseto encontrado em áreas de Cerrado no sul do Estado, capaz de parasitar e eliminar ninfas da mosca-branca com alta eficiência.

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Os estudos fazem parte de um esforço da UFPI para promover práticas de agricultura sustentável e controle biológico, visando reduzir os prejuízos causados à produção agrícola, especialmente à soja, cultura que representa quase 70% da produção agrícola do Piauí. Para 2025, a safra de soja no estado está estimada em mais de 4 milhões de toneladas.

Ameaça crescente – A mosca-branca compromete a produtividade ao sugar a seiva das plantas, transmitir viroses e liberar uma substância adocicada que favorece o crescimento de fungos nas folhas. Em 2014, um surto da praga no estado impulsionou os pesquisadores da UFPI a intensificarem os estudos sobre seu controle.

Professora Luciana Barboza Silva

À frente das pesquisas, está a professora Luciana Barboza Silva, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias, no Campus da UFPI de Bom Jesus. Segundo ela, a identificação da cultivar resistente foi possível após o monitoramento de 11 cultivares de soja amplamente utilizados na região. Após mais de uma década de estudos, o cultivar M8808 foi selecionado por sua capacidade de reduzir a oviposição (postura de ovos) e o desenvolvimento da mosca-branca, além de atrair seus inimigos naturais.

“Ao longo de inúmeros testes, conseguimos identificar os mecanismos de resistência presentes nessa cultivar. Atualmente, estamos na fase final de avaliação dos compostos voláteis envolvidos nas interações entre a soja, a mosca-branca e o parasitoide. As características do M8808 poderão, futuramente, servir de base para o desenvolvimento de novas variedades mais resistentes”, destaca a pesquisadora, integrante do Grupo de Experimentação e Pesquisa em Manejo Integrado de Pragas (EPMIP/UFPI).

Nova aliada no controle biológico – A equipe também identificou uma nova espécie de parasitoide do gênero Encarsia, coletada em áreas de Cerrado no sul do Piauí. O inseto se destacou por apresentar características morfológicas distintas das espécies já conhecidas, o que levou os pesquisadores a realizarem uma análise taxonômica mais aprofundada, combinando métodos clássicos com ferramentas moleculares.

A descrição científica da nova espécie está sendo conduzida com base em características morfológicas e análise genômica comparativa, por meio do sequenciamento de regiões específicas do DNA — como o gene mitocondrial COI (Cytochrome Oxidase I), amplamente utilizado em estudos de DNA barcoding. Essa abordagem permitiu comparar o código genético do parasitoide com o de outras espécies descritas do gênero Encarsia depositadas em bancos internacionais, como o GenBank.

Os dados genéticos, analisados em parceria com pesquisadores do Instituto Biológico de São Paulo, evidenciaram uma divergência significativa em relação às espécies mais próximas, confirmando tratar-se de um táxon novo. Com base nesses resultados, a equipe deu início ao processo formal de descrição da espécie, que será submetida a uma revista científica especializada em taxonomia.

“A nova espécie, ainda em fase de descrição científica, demonstrou grande potencial para uso em programas de controle biológico, configurando-se como uma alternativa promissora ao uso intensivo de inseticidas. Essa descoberta ressalta a importância da biodiversidade regional como aliada no manejo sustentável de pragas agrícolas”, avalia Luciana Barboza.

Professor Rafael Miranda

O pesquisador Rafael Miranda, do Programa de Pós-Graduação em Ciências Agrárias, lotado no CCA, Campus de Teresina, colaborou com a pesquisa de identificação da cultivar resistente à mosca-branca, ao realizar análises da eficiência fotossintética da planta e seu potencial para lidar com a condição adversa que é a praga.

“Após diversas investigações e associando com os metabólicos da espécie, conseguimos identificar quais seriam as vias que a planta utiliza para se defender da mosca branca, que seria a defesa natural. Então, meu papel foi esse, a gente analisar vias fisiológicas e bioquímicas de defesa da planta contra esse inseto”, detalha o pesquisador Rafael, coordenador do Grupo BioPlant, ligado ao PPGCA.

As pesquisas são financiadas por agências como a Fapepi e o CNPq e realizadas em parceria com programas de pós-graduação da UFPI, UFV e UFPB.

Valorização da biodiversidade – Além da pesquisa científica, a professora Luciana Barboza coordena iniciativas de extensão como o projeto “Insetos na Escola”, que promove a educação científica e a valorização da biodiversidade entre estudantes da rede básica no sul do estado, despertando vocações científicas desde cedo.

Cultivar de soja com resistência natural à mosca-branca

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