A votação da chamada PEC da Blindagem revelou um raro alinhamento entre direita e esquerda no Congresso Nacional – e não por uma causa popular. Ao contrário, a aprovação da proposta mostra que, quando o assunto é proteger os próprios mandatos, as diferenças ideológicas desaparecem.
A PEC estabelece que Câmara e Senado terão até 90 dias para analisar os pedidos da Justiça para iniciar um processo contra parlamentares acusados de crimes. Atualmente, o Judiciário tem autonomia para dar andamento a ações contra deputados e senadores. Na prática, a medida representa mais uma barreira contra o avanço de investigações, ampliando o escudo de proteção sobre a classe política.
Os números mostram como a base parlamentar se uniu. Do PL, 82 deputados foram favoráveis. O PRD aprovou por unanimidade. No Republicanos, 43 votos pelo “sim”. No Progressistas (PP), 45 favoráveis e apenas três contrários. O União Brasil registrou 52 votos a favor e cinco contra. O MDB também aprovou majoritariamente: 32 sim e cinco não. O Avante teve seis votos positivos e um negativo. O Podemos registrou 14 sim e três não.
Entre os partidos que tiveram maior divisão interna, o PSB de Geraldo Alckmin ficou em 9 a 6, e o PSD registrou 24 a 18. Três partidos terminaram com empate: Solidariedade (2 a 2), PSDB (6 a 6) e PV (2 a 2). Já o PT do presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a legenda que mais rejeitou a PEC, com 50 votos contrários e 10 favoráveis.
O resultado escancara que, em muitos casos, os interesses individuais e corporativos falaram mais alto do que o compromisso com a transparência e a justiça. Parlamentares que costumam se apresentar como antagonistas, neste caso, caminharam juntos para blindar a si mesmos de futuras ações judiciais.
No fim, o eleitor se vê diante de um Congresso que parece se unir apenas quando há uma ameaça ao próprio poder. Como diz o ditado popular: “Eis o X da Questão.”
Deixe sua opinião: