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Morro Cabeça no Tempo: prefeitura e agronegócio são contra incorporação da Serra Vermelha ao Parque Nacional

Foto: André Pessoa

Apesar de muitos já terem ouvido falar sobre a Serra Vermelha é preciso que essa floresta seja mais conhecida entre os piauienses, principalmente, para aumentar sua defesa e proteção. Trata-se de uma região com biodiversidade fantástica e monumentos naturais de tirar o fôlego. Ela está localizada ao Sul do Piauí, entre os municípios de Bom Jesus, Redenção do Gurguéia, Curimatá e Morro Cabeça no Tempo, a 874 km de Teresina. Descrever suas belezas se torna difícil, são inúmeras paisagens deslumbrantes entre serras, cânions, cavernas com pinturas rupestres e uma vegetação exuberante.

Já descrever sua importância é fácil, pode ser vista a olho nu, na grande mata primária existente, considerada a maior reserva de Caatinga do Nordeste e também Refúgio dos biomas Cerrado e Mata Atlântica, com animais raros de se ver na natureza, a exemplo do lobo-guará, das onças pintadas, pretas e vermelhas, Antas, além de pássaros e répteis incontáveis. Se isso não for o bastante para comprovar sua importância, é lá também onde se encontram duas bacias hidrográficas fundamentais para o Nordeste, a do Rio São Francisco e Rio Parnaíba.

Porém, esse inestimável patrimônio da humanidade de 114 mil hectares, que nunca teve proteção efetiva do Estado, tornou-se área de exploração da empresa carioca JB Carbon, que conseguiu junto ao Ibama e Semar licenças ambientais para a exploração dos recursos ali existentes, produzindo carvão a partir da vegetação nativa. O desmatamento movimentou os ambientalistas que foram à justiça lutar pela preservação da região.

Foto: André Pessoa
Foto: André Pessoa

Passados dez anos, finalmente, em janeiro deste ano, a Justiça Federal, através de mandato de busca, determinou que o Instituto Chico Mendes – ICMBio anexe a Serra Vermelha ao Parque Nacional Serra das Confusões, criado em 1998. O Parque Nacional foi ampliado em 2011, mas deixou a área da Serra Vermelha fora da ampliação, o que levou o Ministério Público a ajuizar uma Ação Civil Pública, questionando a não inclusão da área ao Parque.

Em maio deste ano, mostramos aqui no Ocorre Diário, a decisão da juíza Marina Cavalcante, Coordenadora do Centro Judiciário de Conciliação da Justiça Federal. Essa decisão, entretanto, não agradou a empresa, prefeitos, fazendeiros e grileiros que exploram a região. Todos se manifestaram na consulta pública, realizada pelo ICMBio, na última terça-feira (07/06), em Morro Cabeça no Tempo. O grupo se manifestou contra a ampliação e mostrou que está disposto ir às últimas consequências para permanecer com suas atividades exploratórias, que segundo os ambientalistas, contribuem substancialmente para agravar o desmatamento da floresta.

O prefeito do município, Josué Alves (PP), defendeu a inserção do cultivo de monoculturas na região e argumentou que seu município precisa se desenvolver e que isso só é possível através do agronegócio.

Para ambientalistas ouvidos nesta reportagem, o prefeito tem razão quando diz que em Morro Cabeça no Tempo a economia não gira, que a cidade parece perdida em meio ao nada, embora tenha sido criada há 26 anos e tenha menos de cinco mil moradores. Para os ativistas, a cidade não cresce porque não entende que o desenvolvimento pode vir através da conservação do seu patrimônio natural e porque ainda sustentam discursos para impedir a proteção da Serra Vermelha.

Foto: André Pessoa
Foto: André Pessoa

Ainda na consulta pública, chamou atenção à fala do ex-prefeito de Curimatá e proprietário de terras na área, Reidan Kleber. Ele foi enfático ao afirmar que a empresa JB Carbon não vai desistir de explorar a área que, por sinal, já obteve licença ambiental e começou implantando o projeto de energia eólica. “Três torres já foram montadas na Serra Vermelha”, assegurou.

Chamou atenção também a fala de um dos representantes do Agronegócio, conhecido como Tonho Xico. Ele agradeceu a presença de dois representantes da Secretaria do Meio Ambiente do Estado-SEMAR, que, segundo ele, estavam ali para apoia-los já que o órgão sempre esteve a favor da exploração da Serra Vermelha. Os funcionários da SEMAR não se manifestaram.

O resultado da consulta pública será levado em conta na elaboração da proposta do ICMBio, que será encaminhado à Justiça Federal, definindo o traçado da área importante para a conservação da Natureza. Agora, a instituição tem prazo de 60 dias, posteriormente a proposta se transforma em decreto assinado pelo presidente da República.

Foto: André Pessoa
Foto: André Pessoa

Fonte: Ocorre Diário

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