“Desde muito cedo sempre valorizei a liberdade e tinha uma sensibilidade aguçada”!Valez Batista, o primeiro transgênero de Bom Jesus nos relatou que nunca teve dúvidas quanto a sua sexualidade e também nunca abaixou a cabeça com piadinhas e preconceitos, tanto na época da escola quanto hoje em dia. Com um “jeito diferente” dos demais irmãos (ao todo são 37 filhos por parte do pai),Valez ao 10 anos já sabia o que queria para sua vida; ouvinte dos noticiários internacionais da Rádio Voz do Brasil e amante de música clássica ( Bolero de Maurice de Ravel era sua favorita), el@ teve como Diva inspiradora Mercedes Sosa ( cantora argentina, uma das mais famosas na América Latina; se tornou uma das expoentes do movimento conhecido como Nueva canción; ficou conhecida como a voz dos “sem voz). Página oficial www.mercedessosa.com.ar .
“Passei a vender “dindin” e com o dinheiro que ganhava comprava livros; fui a primeira pessoa a comprar a revista Nathional Geographic na banca de revistas em Bom Jesus, eu já sonhava em ganhar o mundo. Apaixoanad@ pela História do Império Russo, recortava de livros e revistas as imagens e fotos de antiguidades e pregava na parede do quarto; enquando os demais de minha idade pregavam na parede fotos de artistas, playboy ou de jogadores , eu colocava na parede de meu quarto fotos de móveis e joias da Antiguidade”, pontuou Valez.
Aos 13 anos foi trabalhar com os Missionários da Igreja Cristã Evangélica, e com eles aprendeu a falar inglês; aos 15 anos enfrentou seu pai que queria lhe bater por não aceitar determinado comportamento, então resolveu morar sózinh@, tendo a proteção da mãe que sempre lhe levava a comida ( morava num quartinho nos fundos da casa dos pais). Dessa época Valez não guarda rancor,pois acredita que a postura e a educação que recebeu do pai serviu para lhe deixar a pessoa forte (física e psíquica) que és hoje: ” Com essa criação rústica, meu pai me ensinou a não desistir , a enfrentar a todos que tentassem me atacar seja verbalmente ou fisicamente”, frisou Batista. Com 18 anos foi morar em Brasília e conseguiu emprego num hotel, pois na época eram poucos os garçons que falavam inglês como el@, mas pouco tempo depois foi demitida por ser gay ( esse é o motivo que foi registrado na rescisão do Contrato de Trabalho). Certo dia, ao frequentar um barzinho para o público gay, encontrou uma prima de Simplício Mendes que era lésbica, e também sofria o preconceito por ser “diferente” dos demais; os dois resolveram ir morar em são Paulo e lá Valez arrumou emprego numa Sauna gay (fazia sanduíches); nesse período, já com 21 anos, seus pais foram à São Paulo visita-l@ e foi nessa oportunidade que apresentou seu namorado a família; a reação do pai foi a preocupação com o que a sociedade de Bom jesus iria dizer daquilo e a mãe muito calma disse que já sabia; uma cunhada e a prima ajudou a confortar o pai que estava preocupado com a repercussão da sociedade, e depois de ter ser declarado homossexual a convivência com os familiares melhorou: ” Passaram a me respeitar pelo meu caráter”, frisou. Sua transformação para o universo feminino foi lenta e gradual: a primeira vez que se vestiu de mulher, ainda era criança e apanhou da mãe por estar usando suas roupas; deixou o cabelo crescer; em 1991 foi a Boate Corintho em São Paulo vestido de mulher, era carnaval; em 1992 começou a tomar hormônios e em 1994 passou a usar roupas andrógenas, até que em 1996 mudou definitivamente seu guarda roupa para o feminino.
Em 1994 conseguiu um emprego de Métri num restaurante Italiano em São Paulo, e, 03 meses depois já estava na cozinha do mesmo, ficando ali por dois anos, até que resolveu ir para a Holanda. Valez disse que em Amsterdã o preconceito era maior com os povos árabes e marroquinos, mas que sempre tirou de letra. Com mais de duas décadas morando fora do País, el@ não tem data para voltar a morar no Brasil: ” Minha maneira de viver é caótica e se tentar organizar vira bagunça, então não faço planos, mas um dia talvez eu volte sim para o Brasil”. Questionad@ se prefere ser chamada de ela , Valez diz ser irrelevante quanto a isso, pois aqui a maioria ainda usa O VALEZ e na Holanda é A VAL.
O que tira valez do sério? Ofensas à família, principalmente a sua mãe: “No passado para ofender meu pai, me chamavam de “viado”, hoje tentam atacar minha mãe mais pelas minhas ideias e posicionamentos em relação a política do que por eu ser gay, e isso me tira do sério”. Valez finaliza nossa conversa com um recado: O QUE INTERESSA NUM SER HUMANO NÃO É A APARÊNCIA FÍSICA E NEM SUA SEXUALIDADE,O QUE MAIS IMPORTA É O CARÁTER E A PERSONALIDADE!
Por Elizabeth Zanon