Crispina como a maioria das piauienses traz no rosto a marca da vida sofrida do nordestino. Fruto de um romance passageiro e abandonada pelos pais biológicos teve como mãe a avó que a criou com muito amor, mas enfrentando difíceis batalhas para sobreviver.
A pequena Crispina não desfrutou de sua infância, pois os brinquedos que conheceu foram à enxada e o balaio que era utilizado como instrumento de trabalho, meio esse, que foi oferecido pelo traiçoeiro destino. Durante sua adolescência fiava, tecia, colhia legumes (onde ganhava dois pratos de legumes por dia), pilava sacas de arroz manualmente em pilão, não deixando transparecer a dor dos calos de sangue feito pelo fuso, tear e mão de pilão, a inocente menina mergulhava no mundo da imaginação e sem perceber, chorava, rezava elevando as mãozinhas pedindo a Deus uma vida melhor.
Depois da infância roubada e adolescência desconhecida, Crispina chega à juventude com a ilusão que poderia ser diferente. Mas no Piauí, principalmente no interior as moçam casavam cedo; Crispina aos 16 anos já carregava o peso da responsabilidade de ser dona de casa e mãe de um menino com o nome de Salvador em homenagem a São Salvador, promessa que a mesma fez na hora do parto; não demorou muito e chega o segundo filho que após o parto faleceu; mas não desistindo e desejando outro bebê, engravidou novamente, nasce uma princesa, dádiva de Deus, batizada com o nome de Maria Inês, para a alegria e felicidade da família.
Na sua quarta gestação não teve a mesma sorte, a criança morre no parto, mas ela não desistiu e pediu a São Francisco com muita fé pela vida de seu filho, agraciada pela vitória colocou nome do menino de Francisco. Passado alguns anos Crispina engravida de um menino, que mesmo confiante com o sucesso da última gravidez, ela teve complicações durante o parto deixando-a entre a vida e a morte.
Deus conhecendo as dificuldades que sua serva sempre enfrentou e amenizando a dor daquela família levou apenas a criança, deixando que Crispina vivesse. Surge o 7º filho; dessa mulher abençoada por São Paulo, Santo Milagroso que em sua homenagem coloca o nome do menino de Paulo.Depois de tantas percas não se deixou levar pelo medo e confiante resolveu finalizar sua produção com mais um filho, que para a sua tristeza no oitavo mês de gestação foi picada por uma lacraia (escorpião), o menino nasceu e viveu apenas 24h, pois o veneno do terrível inseto contaminou a criança, que foi batizado a pedido de Crispina; sua madrinha foi Maria de Liô, funcionária daquela instituição de saúde.
Como a cada dia é um recomeço, Crispina resolveu iniciar uma nova fase de sua vida, se deslocando de Ovelhas, localizado no município de Santa Luz para a fazenda de Antônio José, localizado em Gruta Bela, município de Bom Jesus, permanecendo pouco tempo naquela fazenda. Vítima de muitos problemas e atritos veio morar na comunidade Marcos Júlio/ Gruta Bela. Dois meses após a sua chegada em Gruta Bela, é surpreendida pela angústia da separação, pois sua filha encontrou no lugarejo em que vivia o que viria a ser seu marido. Para quem trazia a marca da separação e perda, o casamento da Maria Inês era para a mesma uma alegria e dor ao mesmo tempo, mas as novidades não acabaram; seis meses depois casa-se seu filho caçula e mais tarde houve mais um casamento, desta vez foi seu primogênito que se casou.
Ela passou a morar apenas com Francisco e seu esposo, companheiro, amigo de batalha, que veio a falecer no dia 26 de julho de 2011, deixando o seu coração destruído pela dor, solidão e saudades, que mesmo entre tapas e beijos eles se amavam e eram felizes. A Crispina menina, adolescente, jovem e adulta traz a marca da vida sofrida da piauiense e nordestina, que é vítima do preconceito, seca, fome, sede e dificuldades financeiras, mas que leva no coração a bondade, alegria, sorriso, a esperança de dias melhores e a crença no Deus todo poderoso.
Crispina Maria de Lima Silva hoje com 82 de vida, 14 netos e 04 bisnetos, ela continua morando no mesmo lugar e com a doce companhia da pequena Lunna Izabelly uma de suas bisnetas.
Por: Elizabeth Zanon