Nos últimos anos, a Testosterona tomou conta da roda de conversa entre mulheres, em bares, consultórios e principalmente em academias.
Como médica, recebo este pedido frequentemente:
– Doutora, dose minha testosterona…
E geralmente eu respondo: – Pra que? Eu já sei o resultado, ela estará baixa!
Vamos entender um pouco mais:
A testosterona é um hormônio masculino, responsável pelos caracteres sexuais secundários que surgem em meninos na puberdade, como barba, bigode, engrossamento de voz, aumento do pênis e da caracterização do corpo e da massa muscular tipicamente masculinos.
Ao contrário dos homens, as mulheres têm níveis de testosterona extremamente baixos, e o hormônio sexual que inunda o corpo das mulheres após a puberdade é o Estrogênio, produzido principalmente nos ovários.
E por que, ultimamente, mulheres estão tão interessadas na testosterona?
Num rápido retrospecto sobre o padrão de beleza historicamente existente na sociedade, vamos perceber que ele sofre mudanças ao longo do tempo em diferentes culturas. Nas clássicas pinturas renascentistas, mulheres consideradas belas à época, tinham outro biotipo, onde excesso de gordura era sinal de beleza e fartura. Nas décadas de 80/90, as modelos de passarelas tinham o padrão de beleza anoréxico, sem peitos e sem bumbum. Nos anos 2000 veio o bum do silicone e de mamas fartas. Hoje, o culto à beleza do corpo passou a valorizar a hipertrofia muscular e o mínimo de tecido adiposo, num padrão “fisiculturista” mais masculino, mesmo para mulheres.
Sim, a sociedade moderna criou um estereótipo de beleza feminina com músculos hipertrofiados e percentual de gordura mínimo, quase impossíveis de se atingir de forma natural.
Entendemos hoje que músculos são importantes e muito relacionados à saúde e autonomia, principalmente com o avançar da idade, mas há que se estabelecer a diferença entre o que é saudável e o que é exagero e artificial. A hipertrofia muscular exagerada em mulheres, via de regra, só consegue ser atingida com auxílio de drogas androgênicas (anabolizantes) em doses acima das fisiológicas, popularmente conhecidas como “bomba”. Estas drogas em doses supra fisiológicas podem causar enormes danos à saúde. Exemplos de drogas anabolizantes: Testosterona em altas doses, Chip da beleza (Gestrinona), Oxandrolona etc. Tudo isto, muitas vezes na forma de implantes, sem segurança de dose, manipulação, procedência e fiscalização.
Os efeitos danosos para a saúde podem incluir acne, crescimento de pelos em locais indesejados, comportamento mais agressivo, queda de cabelo, engrossamento da voz, hipertrofia de clitóris (estes dois últimos irreversíveis) e danos importantes a diversos órgãos como coração, fígado e rins. Todos esses riscos em nome da hipertrofia muscular que muitas vezes se torna um vício sem limites.
A situação se tornou tão alarmante no Brasil, que recentemente, algumas das mais importantes sociedades médicas como a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Federação Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia se reuniram e emitiram nota conjunta condenando o uso de drogas anabolizantes de modo geral com fins estéticos (leia-se: hipertrofia muscular).
O uso da Testosterona, em doses baixas (fisiológicas), preferencialmente pela via transdérmica, fica restrito a casos específicos de mulheres com desejo sexual hipoativo na pós menopausa e excluídas todas as outras causas concorrentes (que são muitas), sem que seja necessário para isto, dosagem previa de testosterona ou qualquer parâmetro dito de “testosterona baixa”.
E quando realizar a dosagem da testosterona? Apenas naqueles casos suspeitos de testosterona elevada! Onde existam sinais clínicos, ou no seguimento das mulheres que façam uso da testosterona em doses fisiológicas. Não há parâmetros laboratoriais inferiores de normalidade aceitos para níveis de testosterona baixos em mulheres, e principalmente parâmetros que justifiquem eventual reposição de testosterona.
Portanto, mulheres, sejamos mulheres!
Queremos massa muscular sim, mas de forma saudável e sem exageros, deixemos a Testosterona para os homens e fiquemos com nosso Estrogênio, que é feminino, melhora coração, vasos sanguíneos, pele, cabelos, trofismo vaginal, metabolismo, sono e humor!
E viva o nosso Estrogênio!
Fonte: Simone Madeira, Ginecologista (Clube News)