Anderson Ranchel Dias de Sousa, um dos presos na Operação Prodígio, ostentava uma vida luxuosa nas redes sociais. Ele viajou mais de 10 vezes para os Estados Unidos, dirigia uma BMW de R$ 350 mil e tinha destaques no Instagram para cada país visitado, entre eles França, Holanda, Argentina e Portugal (veja fotos ao fim da reportagem).
Ele foi preso nesta terça-feira (5) suspeito de liderar esquema de fraude bancária que causou prejuízo de R$ 19 milhões a instituições financeiras no Brasil.
Em uma de suas publicações, Anderson postou uma foto na Flórida (EUA), citando uma música do cantor Belchior, dizendo não ter "dinheiro no banco".
"Eu sou apenas um rapaz latino-americano, sem dinheiro no banco, sem parentes importantes e vindo do interior".Segundo a polícia, em um ano e meio ele realizou mais de 10 viagens aos Estados Unidos. "O Anderson é apontado como líder, a pessoa que mais captou clientes no Piauí, a pessoa que operava esse sistema financeiro, ele tem essa posição de liderança, sim", explicou o delegado Anchieta Nery, diretor de inteligência da SSP.
Conforme o delegado, a ostentação de bens é característico do jovem que obtém muito dinheiro em um curto espaço de tempo. Ele conta que Anderson comprou artigos de luxo, motos-aquáticas, carros luxuosos e diversas viagens para os Estados Unidos e Paraguai.
Um dos veículos apreendidos pela polícia em posse dele foi uma BMW, avaliado em R$ 350 mil. Apenas em bens, conforme apurado pela polícia, o rapaz possuía o estimado em R$ 4 milhões.
As investigações do caso iniciaram há cerca de um ano e meio, segundo a Polícia Civil do Piauí. No perfil da rede social de Anderson Ranchel, entre os meses de janeiro e abril de 2022, ele publicou fotos nas cidades de Lisboa (Portugal), Madri (Espanha), Londres (Inglaterra), Tromso (Noruega), Monique (Alemanha), Paris (França) e Amsterdam (Holanda).
Junto isso, a esposa de um dos suspeitos presos na Operação Prodígio nesta terça-feira (5), que não teve seu nome informado, denunciou fraude do grupo após sofrer violência doméstica do marido.
Já no último semestre de 2021, suas publicações de viagens eram pelo nordeste, como Fortaleza (Ceará), Salvador (Bahia), Recife (Pernambuco), Caxias, Timon e São Luís, no Maranhão, e Guadalupe, interior do Piauí.
O crime
A Polícia Civil do Piauí (PC-PI) prendeu nesta terça-feira (5) pai e filho e mais quase 30 pessoas suspeitas de integrar o esquema de fraude bancária que causou prejuízo de R$ 19 milhões a instituições financeiras no Brasil. Desse valor, R$ 6 milhões são relacionados a fraudes praticadas em contas bancárias de agências localizadas no Piauí."Dentre os presos, 22 capturados só aqui em Teresina, a maioria se concentra na Zona Sul e eram pessoas que eram integradas pra serem clientes dessa parte financeira no banco e líderes da associação criminosa na Zona Leste da capital", explicou o deleagdo Anchieta Nery, diretor de inteligência da Secretaria de Segurança Pública do Piauí (SSP).Conforme a polícia, pai e filho são suspeitos de liderar o grupo de quase 30 pessoas. Alguns dos suspeitos presos têm entre 18 e 21 anos e diziam ser médicos e engenheiros para abrir contas bancárias, daí o nome da operação.
"Algo bastante improvável. Outros apresentavam-se como engenheiros, com a mesma idade", avaliou o delegado.
A fraude consistia em buscar pessoas para abrir contas bancárias com dados falsos (como profissão e renda) que levassem o banco a aumentar o limite de crédito desse cliente. Uma vez aberta a conta, a associação criminosa simulava uma série de transações bancárias para “esquentar” a conta, de forma que o banco entendesse que aquela renda declarada era legítima.
A fraude terminava quando o grupo criminoso acreditava ter atingido o máximo de limite de crédito possível, retiravam o valor máximo de empréstimo e “tombavam” o banco, não realizando mais qualquer pagamento.
Investigação
A operação deflagrada pela Superintendência de Operações Integradas (SOI), e Diretorias de Inteligência da SSP-PI e PC-PI iniciou com uma investigação há mais de um ano e meio. A instituição financeira prejudicada denunciou à diretoria de segurança do banco que detectou a fraude e acionou a PC-PI.A ação deu cumprimento a 25 mandados de busca e apreensão e 30 mandados de prisão temporária nas cidades de Teresina, Floriano, Amarante e Nazaré do Piauí. Ao final do Inquérito Policial a PCPI compartilhará provas com outros Estados e novas prisões podem ocorrer.
"Nós tínhamos três principais grupos: líderes, o braço financeiro da organização criminosa que lavava esse dinheiro tirado do banco e os chamados 'clientes' que eram pessoas integradas na organização criminosa por esses líderes e seus representantes pra abrir conta no banco em seu próprio nome com dados falsos", explica o delegado Anchieta.