Entre 2017 e 2018, a obra de Tarsila do Amaral (1886 – 1973) percorreu museus importantes em Chicago e Nova York. Mas agora o trabalho da pintora volta para a casa, em São Paulo, numa das mais amplas exposições já feitas sobre o seu trabalho. Tarsila Popular, que entra em cartaz no Museu de Arte de São Paulo Assis Chateaubriand, o Masp, a partir desta sexta-feira, 5, reúne cerca de 120 trabalhos da artista, sendo mais de 50 pinturas. Obras icônicas como Abaporu (1928), Antropofagia (1929) e Operários (1955) estão reunidas para a mostra.
Mas a ideia, de acordo com o curador da exposição, Fernando Oliva, não é simplesmente criar uma nova retrospectiva do trabalho de Tarsila. “A exposição não é cronológica. Não acho nem que seja dividida em núcleos. São aproximações para que possam ser feitas novas análises, fricções diferentes, sobre o trabalho.”
Por isso, o Masp convidou uma série de historiadores e pensadores contemporâneos para analisar a obra da pintora modernista. São cerca de 40 textos, que, além de integrar o catálogo da exposição, vão estar nas paredes da mostra, auxiliando os visitantes a entender as novas reflexões sobre Tarsila.
A expografia de Tarsila Popular deixa o público seguir seu caminho livremente, mas alguns agrupamentos de obras da pintora foram feitos em pequenas salas dentro do grande espaço expositivo. A mostra começa com a icônica A Negra (1923) e com uma série de retratos e autorretratos, como Autorretrato com Vestido Laranja (1921), quadro do Banco Central que, há poucos meses, passou a integrar o acervo do Masp, num acordo de comodato.
A exposição continua com um setor de nus, outro de viagens, até chegar a um sobre manifestações religiosas. Tarsila pintou referências católicas de um jeito bem brasileiro, como em Religião Brasileira I (1927), inspirada em altares domésticos e igrejas mineiras.
Outra seção da mostra traz os trabalhos da artista que mais se relacionam, diretamente, com a ideia de popular. São pinturas sobre o povo brasileiro, que, em alguns momentos, fogem da visão otimista sobre o País, como em Segunda Classe (1933). Operários traz a diversidade racial e étnica do Brasil, enquanto Trabalhadores (1938), mais uma obra do comodato com o Banco Central, traz uma visão também da mão de obra no meio rural.
O setor final talvez seja o mais aguardado para os visitantes. É ali que estão Abaporu, emprestado pelo Museo de Arte Latinoamericano de Buenos Aires (MALBA), e Antropofagia. Entre elas, o grandioso quadro Batizado de Macunaíma (1956). De acordo com o curador da exposição, a ideia central é mesmo criar esses novos diálogos. “As obras mais conhecidas da artista, caso de Abaporu e Antropofagia, são inseridas em novos contextos, no caso em diálogo com o Batizado de Macunaíma, lembrando a relação da obra da Tarsila com a mitologia indígena”, explica Fernando Oliva.
Muitas obras de Tarsila, como o próprio Abaporu, estão fora do Brasil. Por isso, a exposição é também uma oportunidade rara de ver alguns quadros no País, como Pescador (1925), que foi vendido pela artista diretamente na Rússia, onde hoje é exposta em São Petersburgo, no Museu Hermitage. É a primeira vez que a pintura é exibida no Brasil. Para a sobrinha-neta de Tarsila, Tarsilinha do Amaral, que cuida do espólio da artista, o momento é importante. “Ela queria ser a pintora do Brasil. Essas novas exposições são importantes para levar o nome dela ainda mais longe.” Segundo ela, além de mais mostras no exterior, há também a ideia de realizar uma cinebiografia sobre Tarsila, ainda em estágio inicial.
TARSILA POPULAR E LINA BO BARDI: HABITAT
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